quarta-feira, 19 de novembro de 2014

HISTÓRIA VERÍDICA DO POVO NEGRO NO BRASIL


A HISTÓRIA QUE O BRASIL NÃO CONTOU
Cida Araújo
 Pouco, me ensinaram a escola e a sociedade sobre minha verdadeira história.
Sobre minhas raízes, realidade.
Ao me falarem da escravidão ressaltaram o poder dos senhores e do povo negro a submissão.
Falaram-me das correntes, do tronco, da chibata e dos porões...
Não me falaram da resistência, das lutas, da organização.
Deixaram margem para que eu pensasse que o povo negro era idiota, que aceitava tudo calado.
Ao me falarem das plantações de café, dos canaviais, das minas e dos casarões, não me falaram da sua força, da sua inteligência, da sua capacidade de fazer um país com a força de seus braços.
Chegaram a afirmar que o povo negro era preguiçoso. Só trabalhava para não apanhar.


...Ao me falarem de sua identidade, contaram-me que eles chegavam aos montes, em navios negreiros,
Marcados a ferro como animais. Vendidos em feiras como mercadorias.
Não me falaram que o povo negro tinha alma, sangue, raízes.



Ao me falarem da sua fé, diziam apenas que eram supersticiosos, feiticeiros, cultuavam Deuses pagãos.
Não me falaram de sua religião, de sua fidelidade a um Deus vivo, cultuado com danças, cantos, gestos e rituais.

Não me falaram da alegria do povo negro ante o reconhecimento, que podiam contar com o senhor de todas as histórias...


Ao me falarem da beleza, definiram-na assim:
Ter traços finos, cabelos lisos e pele clara, era ser bonito.
Ter traços fortes, cabelos crespos e pele escura, era ser feio.
Não me falaram que o negro tem seu cheiro, sua característica.
Sua ginga, um olhar, um brilho especial.
Que o negro de cabeça erguida, encanta.

Que o negro é lindo! Que a negra é linda!

Ao me falarem da sua cultura... Aí, eu tenho vontade de chorar!
Nada falaram.
Fizeram-me pensar que o povo negro era uma folha atirada ao vento
Não me falaram que o povo negro tem um sangue diferente.

Sangue quente, nobre, forte e bonito
O regente de seu corpo, de sua cultura.
Uma energia que enobrece sua arte.
Que faz vibrar!
Que faz cantar!
Que faz dançar!

Que faz surgir sons especiais dos objetos simples e banais.
Falaram-me muito da Princesa Isabel.
Pouco, ou nada, de Zumbi dos Palmares.
Fizeram-me sentir tristeza por ser negra.
Fizeram-me sentir vergonha por ser negra.


Em meu corpo moreno, mulato, pardo, preto existe a pigmentação que define minha origem,
Em minha alma vibrante, meu espírito silencioso.
Em minhas veias vigorosas, corre o sangue dos meus ancestrais.
Sangue africano.
Sangue baiano.
Sangue mineiro.
Sangue negro
A pigmentação que dentro da raça humana define o meu povo negro!


AXÉ
Autoria – Cida Araújo –(Do livro, Paralelos sociais)

Um comentário:

BilaBernardes disse...

Cida, o seu é um poema para estar nos livros escolares, em jornais de todas as classes, em muros diversos, em painéis para que seu alcance seja infinito. Gostei muito da sua força. Abraços