sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Zumbi está vivo em cada negro, em cada negra que que tem a ousadia de desbravar a história



A HISTÓRIA QUE O BRASIL NÃO CONTOU
Cida Araújo
Pouco, me ensinaram, a escola e a sociedade sobre minha verdadeira história.
Sobre minhas raízes, realidade.
Ao me falarem da escravidão ressaltaram o poder dos senhores e a submissão do negro.
Falaram-me das correntes, do tronco, da chibata e dos porões...
Não me falaram da resistência, das lutas, da organização.
Deixaram margem para que eu pensasse que o povo negro era idiota, que aceitava tudo calado.
Ao me falarem das plantações de café, dos canaviais, das minas e dos casarões, não me falaram da sua força, da sua inteligência, da sua capacidade de fazer um país com a força de seus braços.
Chegaram a afirmar que o povo negro era preguiçoso. Só trabalhava para não apanhar.
Ao me falarem de sua identidade, contaram-me que eles chegavam aos montes, em navios negreiros,
Marcados a ferro como animais. Vendidos em feiras como mercadorias.
Não me falaram que o povo negro tinha alma, sangue, raízes.
Ao me falarem da sua fé, diziam apenas que eram supersticiosos, feiticeiros, cultuavam Deuses pagãos.
Não me falaram de sua religião, de sua fidelidade a um Deus vivo, cultuado com danças, cantos, gestos e rituais.
Não me falaram da alegria do povo negro ante o reconhecimento, que podiam contar com o senhor de todas as histórias.
Ao me falarem da beleza, definiram-na assim:
Ter traços finos, cabelos lisos e pele clara era ser bonito.
Ter traços fortes, cabelos crespos e pele escura era ser feio.
Não me falaram que o negro tem seu cheiro, sua característica.
Sua ginga, um olhar, um brilho especial.
Que o negro cabeça erguida, encanta,. Que o negro é lindo!
Ao me falarem da sua cultura... Aí, eu tenho vontade de chorar!
Nada falaram.
Fizeram-me pensar que o povo negro era uma folha atirada ao vento
Não me falaram que o negro tem um sangue diferente. Sangue quente, nobre, forte e bonito
O regente de seu corpo, de sua cultura.
Uma energia que enobrece sua arte.
Que faz vibrar!
Que faz cantar!
Que faz dançar!
Que faz surgir sons especiais dos objetos simples e banais.
Falaram-me muito da Princesa Isabel.
Pouco, ou nada, de Zumbi dos Palmares.
Fizeram-me sentir tristeza por ser negra.
Fizeram-me sentir vergonha por ser negra.
Em meu corpo moreno, mulato, pardo, existe a pigmentação que define minha origem,
Em minha alma vibrante, meu espírito silencioso.
Em minhas veias vigorosas, corre o sangue dos meus ancestrais.
Sangue africano.
Sangue baiano.
Sangue mineiro.
Sangue negro
A pigmentação que define a minha raça!
AXÉ!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

"Abate os poderosos de seus tronos e eleva os humildes"

BARACK OBAMA
Um novo capítulo da nossa história começa a ser contado!

Entre cantos e danças tradicionais africanas
Um negro é iniciado em nova missão.
Ocupar o mais cobiçado lugar
Governar o mais poderoso pais do mundo.
A África abre as portas e liberta o seu filho para ganhar o mundo.
Os Estados Unidos da América já não suportam a força de nossa gente.
Aos poucos, à custa de muita luta e organização o povo negro vai cada dia mais acreditando em sua utopia.
Poema do livro- Paralelos sociais – Cidaaraujo2007poetisa.blogspot.com

Um novo capítulo da história começa a ser contado




ABRAM AS PORTAS

Abram as portas da senzala
Verão um ancião rodeado de jovens e crianças
Ele está contando histórias
É sua didática ensinar em parábolas
Misturando lendas, mitos, realidade,
Lembrando os ancestrais, o cativeiro, a escravidão
Mantém viva a memória
Faz a moçada perceber
Porque o povo negro tem garra, persistência, teimosia...
E vai à luta resgatando o seu valor.
Abram as portas da cozinha
Verão uma rainha à beira do fogão
Ela tempera a comida como tempera a vida
Se quiserem podem saborear
Deste manjar de sabedoria.
Portadora do axé
Ela carrega em seu ser as bênçãos do Divino.
É a mulher, mulher!
Negra, domesticada, desvalorizada;
Mas que, com elegância...
Conserva a sua dignidade.



Abram as portas da periferia,
Dos mangues, vilas e morros.
Aí estão os trabalhadores
Que sustentam a riqueza do país.
Eles constroem palácios, mansões, estradas;
E garantem a produção das fábricas.
Não encontrarão maquinários para preparação de drogas.
Nem condições para aquisição de armas.
São jovens, negros jovens, pobres jovens!
Brinquedo nas mãos de poderosos.
Abram as portas das universidades.
Os canais da comunicação.
Abram as portas da globalização,
Da tecnologia, do mercado de trabalho.
Da mídia, do poder constituído!
Negros e negras pedem passagem
Vêm cantando o canto da vitória
O samba enredo de sua própria história
História de Chico rei, zumbi dos palmares e outros.
Preparados para assumirem o seu lugar.
Abram as portas e batam palmas
Negros e negras chegaram pra ficar.