segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Nem sempre a história é fiel aos acontecimentos

A HISTÓRIA QUE O BRASIL NÃO CONTOU
Foto - Concurso Beleza negra - Vespasiano
 Pouco, me ensinaram a escola e a sociedade sobre minha verdadeira história.

Sobre minhas raízes, realidade.
Ao me falarem da escravidão ressaltaram o poder dos senhores e do povo negro a submissão.
Falaram-me das correntes, do tronco, da chibata e dos porões...
Não me falaram da resistência, das lutas, da organização.
Deixaram margem para que eu pensasse que o povo negro era idiota, que aceitava tudo calado.
Ao me falarem das plantações de café, dos canaviais, das minas e dos casarões, não me falaram da sua força, da sua inteligência, da sua capacidade de fazer um país com a força de seus braços.
Chegaram a afirmar que o povo negro era preguiçoso. Só trabalhava para não apanhar.
Ao me falarem de sua identidade, contaram-me que eles chegavam aos montes, em navios negreiros,
Marcados a ferro como animais. Vendidos em feiras como mercadorias.
Não me falaram que o povo negro tinha alma, sangue, raízes.
Ao me falarem da sua fé, diziam apenas que eram supersticiosos, feiticeiros, cultuavam Deuses pagãos.
Não me falaram de sua religião, de sua fidelidade a um Deus vivo, cultuado com danças, cantos, gestos e rituais.
Não me falaram da alegria do povo negro ante o reconhecimento, que podiam contar com o senhor de todas as histórias.
Ao me falarem da beleza, definiram-na assim:
Ter traços finos, cabelos lisos e pele clara era ser bonito.
Ter traços fortes, cabelos crespos e pele escura era ser feio.
Não me falaram que o negro tem seu cheiro, sua característica.
Sua ginga, um olhar, um brilho especial.
Que o negro de cabeça erguida, encanta.
Que o negro é lindo!
Foto Elza Júlia
A negra é linda!
Ao me falarem da sua cultura... Aí, eu tenho vontade de chorar!
Nada falaram.
Fizeram-me pensar que o povo negro era uma folha atirada ao vento
Não me falaram que o povo negro tem um sangue diferente.
Sangue quente, nobre, forte e bonito
O regente de seu corpo, de sua cultura.
Uma energia que enobrece sua arte.
Que faz vibrar!
Que faz cantar!
Que faz dançar!

Que faz surgir sons especiais dos objetos simples e banais.
Falaram-me muito da Princesa Isabel.
Pouco, ou nada, de Zumbi dos Palmares.
Fizeram-me sentir tristeza por ser negra.
Fizeram-me sentir vergonha por ser negra.
Em meu corpo moreno, mulato, pardo, existe a pigmentação que define minha origem,
Em minha alma vibrante, meu espírito silencioso.
Em minhas veias vigorosas, corre o sangue dos meus ancestrais.
Sangue africano.
Sangue baiano.
Sangue mineiro.
Sangue negro
A pigmentação que dentro da raça humana define o meu povo negro!
AXÉ!
 Autora - Cida Araújo (Do livro - Paralelos sociais)





Projeto - A POESIA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE


PROJETO – A POESIA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE

Os saberes são adquiridos nos bancos escolares, universitários, etc... Mas a sabedoria inclui essas fontes e mais do que elas, a autodidaxia, a própria experiência pessoal.
Simplesmente vivendo, sentindo, absorvendo intensamente cada momento, cada realidade, cada etapa do caminho que se faz dentro da construção da história de vida individual ou coletiva.
Sentir, buscar e absorver é tentativo de busca de respostas para questões interiores e para as inquietações incontidas referentes à cultura, onde estou inserida.
           
Quem sou?
Um projeto engavetado...
Até onde sou real?
Mentiras são verdades.
Verdades são mentiras...
A criança chora, quer a mãe.
O jovem grita, quer vida.
Calo-me.
Enigma...

Baseado no que disse Jesus Cristo: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. JO 8,32.
Parando, refletindo e pesquisando a minha árvore genealógica posso chegar à minha Identidade.
A que povo eu pertenço?
Qual o sangue corre em minhas veias?
Como brasileira posso pertencer a vários povos.
Independente da cor da minha pele, qual a raça predominante?
Indígena, Africana, Européia ou outra?
O que sei dos meus ancestrais?
O que sei da cultura, da história de meus ancestrais?
Depois de consultar a minha ancestralidade percebi que sou 90% ÁFRICA.
Passei a interessar-me mais pela minha história Afro-brasileira.
O descobrimento, o contato, o conhecimento são salutares e trazem respostas para meus “quens, quês e porquês”.
Esses “quens, quês e porquês” permitem-me fazer a releitura e a reescrita da poesia na construção da minha identidade.
Poesia que nasceu do silêncio existente em mim e da hipocrisia da sociedade onde desenvolvi minha existência.
Que acompanhou o despertar e o desenvolver de uma consciência critica, rebelde, insatisfeita, capaz de detectar as sutis inverdades que povoaram e povoam meu mundo.
Poesia que louva a grandiosidade, a garra, a energia, a beleza de pertencer a um povo, uma etnia, uma raça de tanto valor e dignidade.
Poesia que me permite alçar vôos em busca dos meus lugares e explorar meus potenciais.









DESENVOLVIMENTO DO PROJETO


1º Momento:
Diálogo aberto com os educadores ou agentes multiplicadores.
Ponto de partida: conhecimento do projeto.
Objetivo: provocar, estimular a sensibilidade e a percepção para a seriedade da questão de um modo lúdico, poético e prazeroso.
Fazer fazendo.
Viver vivendo.
Ensinar aprendendo.

2º Momento:
Educador ou agente deverá levar o projeto para a sala de aula ou comunidade.
Trabalhar os poemas sugeridos de acordo com sua didática e criatividade.

3º Momento:
Diálogo aberto com os alunos (ou comunidade), poetisa e educadores ou agentes.
Momento de interação e avaliação.

4º Momento:
Celebração
Sugestão: Sarau poético com apresentação dos poemas sugeridos em declamações, teatros, jogral, RAP, etc.
Poemas sugeridos:

 ● Grande Águia
● O Caminho
● A história que o Brasil não contou
● Abram as portas
● Paralelos
FESTA DA CONSCIÊNCIA NEGRA NA ESCOLA VOVÓ MARIQUITA VESPASIANO