Tudo me tiraram Deixando-me nua, refém do deboche da sociedade. Tiraram-me a voz, a liberdade e a identidade. O orgulho de ser, de viver. De avançar com prazer. Deixando-me estagnada, exangue... Tiraram-me as pistas físicas Mas não o universo do mundo que vive em minhas células. Que transitam nas minhas veias E grita em silêncio no interior de mim. Calaram a minha voz. Mas não silenciaram o meu canto. Cida Araújo autora
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
A criançada negra está de cabeça erguida
Tom Nascimento, Michele Lopes, Mislaine Nieiro, Aline Neves e cada criança presente no 5º ENCONTRO DA CRIANÇA NEGRA.
A promoção foi do GRUPO INFANTO-JUVENIL RAIZES NEGRAS da Paróquia São Raimundo nonato em Santa Luzia.
Música, dança, poesia, confraternização, oficinas, contação de história, desfile de beleza e muito axé.
Assim, num clima de descontração e alegria. Onde o que falou mais alto foi a certeza de que somos uma só raça. RAÇA HUMANA. E juntos numa só voz e num só coração celebramos um dia de vitória do POVO NEGRO.
Zumbi está vivo na pele, nas veias e na história de cada negro, cada negra que acredita que é possível erguer a cabeça e ocupar o lugar que a cada um (a) pertence.
Salve Zumbi
Salve povo negro
AXÉ
domingo, 15 de novembro de 2009
Tom Nascimento, Michele Lopes, Mislaine Nieiro, Aline Neves e cada criança presente no 5º ENCONTRO DA CRIANÇA NEGRA.
A promoção foi do GRUPO INFANTO-JUVENIL RAIZES NEGRAS da Paróquia São Raimundo nonato em Santa Luzia.
Música, dança, poesia, confraternização, oficinas, contação de história, desfile de beleza e muito axé.
Assim, num clima de descontração e alegria. Onde o que falou mais alto foi a certeza de que somos uma só raça. RAÇA HUMANA. E juntos numa só voz e num só coração celebramos um dia de vitória do POVO NEGRO.
Zumbi está vivo na pele, nas veias e na história de cada negro, cada negra que acredita que é possível erguer a cabeça e ocupar o lugar que a cada um (a) pertence.
Salve Zumbi
Salve povo negro
AXÉ
A promoção foi do GRUPO INFANTO-JUVENIL RAIZES NEGRAS da Paróquia São Raimundo nonato em Santa Luzia.
Música, dança, poesia, confraternização, oficinas, contação de história, desfile de beleza e muito axé.
Assim, num clima de descontração e alegria. Onde o que falou mais alto foi a certeza de que somos uma só raça. RAÇA HUMANA. E juntos numa só voz e num só coração celebramos um dia de vitória do POVO NEGRO.
Zumbi está vivo na pele, nas veias e na história de cada negro, cada negra que acredita que é possível erguer a cabeça e ocupar o lugar que a cada um (a) pertence.
Salve Zumbi
Salve povo negro
AXÉ
5º ENCONTRO DA CRIANÇA NEGRA
Encontro de arte.
Araújo declamava ao som do violão de Tom Nascimento
Somos a arte de verdade. Somos os artistas das Minas Gerais.
Música, dança, poesia, confraternização, oficinas, contação de história, desfile de beleza e muito axé.
Mislaine Nieiro
sábado, 17 de outubro de 2009
Sou herdeira de tronos
Tenho orgulho de ser influenciada positivamente por essas duas pessoas maravilhosas: Minha Madrinha Ilda,90 anos e Padrinho Geradinho 96 anos
Realeza
Negro não é o tom da minha pele
Negro é o enredo da minha história
É o grito reprimido ou o silêncio questionador
Negra é a minha identidade desconhecida, subtraída, sabotada na base de sua construção
É a minha realidade descarada, explícita e mesmo assim, NEGADA
Negra é a pirraça, a resistência, a força que reside, na profundidade mais secreta de meu ser
Negra não é apenas a escravidão no Brasil
Negra é a cor da realeza de meus iguais na mãe ÁFRICA
Texto do livro(No colo de Deus) Cida Araújo
Foto Lagoa Trindade MG
Cida Araújo
“Quem já foi rei
Quem já foi rainha
No seio da Mãe África um dia
Majestade sempre será”
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Festival de poesia
A poesia está em todos nós.
Somos poetas e poetisas por natureza. É um dom que Deus colocou em primeiro lugar a nosso serviço no momento da criação.
Agora somos nós a imitar a Deus colocando a poesia em tudo que praticamos.
bela a iniciativa da direção do EJA em Vespasiano ao organizar festivais de poesia.
Participei como jurada.
1º lugar - Jennífer - Poema Salve o nosso planeta
2º lugar - Valdivina - Poema Motivo de Cecília meireles
3º lugar - Wilsom - Poema Mãos dadas de Carlos Drumond de Andrade
Parabéns a todos participantes
sábado, 25 de julho de 2009
Ser VOVÓ, um prêmio recebido da vida
Poema à Ludmila
Já te vejo chegar, Ludmila
Rompendo as barreiras do corpo materno
Subindo ao pódio
Levantando o primeiro troféu.
O troféu da vida.
Já te vejo chegar
Nos braços de uma enfermeira
Com as bochechas redondinhas
Os cabelos arrepiadinhos
Lambuzados de ternura.
Colocada no peito da mãe
Que consegue apenas balbuciar:
Minha filha, como és linda!
Eu do lado, orgulhosa
Fazendo eco à exclamação
Como é linda a minha netinha!
Já te vejo chegar, Ludmila
A correr por todo lado
Quebrando a monotonia
Enchendo de luz e alegria
O nosso lar
A nossa família
Sangue de meu sangue.
Filha de minha filha.
Vovó mãe duas vezes.
Já te vejo chegar, Ludmila
Rompendo as barreiras do corpo materno
Subindo ao pódio
Levantando o primeiro troféu.
O troféu da vida.
Já te vejo chegar
Nos braços de uma enfermeira
Com as bochechas redondinhas
Os cabelos arrepiadinhos
Lambuzados de ternura.
Colocada no peito da mãe
Que consegue apenas balbuciar:
Minha filha, como és linda!
Eu do lado, orgulhosa
Fazendo eco à exclamação
Como é linda a minha netinha!
Já te vejo chegar, Ludmila
A correr por todo lado
Quebrando a monotonia
Enchendo de luz e alegria
O nosso lar
A nossa família
Sangue de meu sangue.
Filha de minha filha.
Vovó mãe duas vezes.
Cida araújo - Do livro(Mulher o axé do criador)
segunda-feira, 27 de abril de 2009
No terreiro da poesia
No tempo da escravidão, Quando o povo africano sentia falta da sua pátria. Quando a dor da saudade sangrava o coração
Eles riscavam um pedaço de chão. Delimitavam aquela área.
E ali naquele terreiro eles chamavam a África que existia dentro da alma.
E aquele pedaço de terra era transformado em seu continente africano, pátria querida com toda a sua riqueza espiritual e cultural. Com seus ritos, valores, história.
A poesia é algo que os dicionários não são capazes de definir com precisão.
Está dentro, fora, em todo e em nenhum lugar. Está aqui, ali...
Aonde?
Parece uma coisa mitológica que existiu não sei quando...
Não.
A poesia é uma coisa concreta. Substancial. Palpável...
Tem cheiro, sabor, volume
Tem poder para saciar, preencher, envolver, transformar, criar...
É possível sim, riscar um terreiro dentro da selva de pedra.
Evocar a poesia que existe dentro.
E dela fazer um ritual.
Eles riscavam um pedaço de chão. Delimitavam aquela área.
E ali naquele terreiro eles chamavam a África que existia dentro da alma.
E aquele pedaço de terra era transformado em seu continente africano, pátria querida com toda a sua riqueza espiritual e cultural. Com seus ritos, valores, história.
A poesia é algo que os dicionários não são capazes de definir com precisão.
Está dentro, fora, em todo e em nenhum lugar. Está aqui, ali...
Aonde?
Parece uma coisa mitológica que existiu não sei quando...
Não.
A poesia é uma coisa concreta. Substancial. Palpável...
Tem cheiro, sabor, volume
Tem poder para saciar, preencher, envolver, transformar, criar...
É possível sim, riscar um terreiro dentro da selva de pedra.
Evocar a poesia que existe dentro.
E dela fazer um ritual.
quarta-feira, 25 de março de 2009
Diante de meu canto reverencia-me ou cale-se
A Música
Como uma gota de óleo numa engrenagem seca
O inalar de um velho perfume
Uma pitada de sal na ferida viva
É a música dentro de mim...
Esse trecho é parte de um poema de minha autoria intitulado, A música.
A música faz parte do repertório de minha vida desde a infância. Quando criança eu gostava muito de cantar. Mas era só eu abrir a boca, alguém gritava:
- Ah não! Já vai começar?
Em minha casa havia um terreiro muito grande, todo de chão. A casa simples era rodeada de plantas, hortaliças e muitas flores. Meu pai, jardineiro, cercava os canteiros com grama que buscava nos lotes vagos que haviam por perto. Adubava com esterco que catava pelos caminhos onde os animais passavam. Lembro-me das fileiras de cenourinha, pimentão, abobrinha de árvore...
E de seu olhar ao me dizer:
- Minha filha, planta é que nem criança. Tem que pegar com jeito, com carinho e cuidar, se não ela morre...
Mas, eu quero falar é da música.
Quando eu queria massagear a minha alma, o remédio era cantar. Para não incomodar a ninguém eu passava a mão numa vassoura e começava a varrer. A varrer e a cantar.
Assim ninguém implicava. Varria cada cantinho sem deixar nada. E cantava todas as músicas que eu conhecia da escola, da igreja e do rádio.
Levava duas horas de relógio para terminar minha tarefa.
Passado esse tempo eu estava feliz e satisfeita. Olhava para trás e o terreiro estava perfeito, lindo, limpo.
Esgotando o meu repertório eu varria também a alma e ficava feliz.
Como uma gota de óleo numa engrenagem seca
O inalar de um velho perfume
Uma pitada de sal na ferida viva
É a música dentro de mim...
Esse trecho é parte de um poema de minha autoria intitulado, A música.
A música faz parte do repertório de minha vida desde a infância. Quando criança eu gostava muito de cantar. Mas era só eu abrir a boca, alguém gritava:
- Ah não! Já vai começar?
Em minha casa havia um terreiro muito grande, todo de chão. A casa simples era rodeada de plantas, hortaliças e muitas flores. Meu pai, jardineiro, cercava os canteiros com grama que buscava nos lotes vagos que haviam por perto. Adubava com esterco que catava pelos caminhos onde os animais passavam. Lembro-me das fileiras de cenourinha, pimentão, abobrinha de árvore...
E de seu olhar ao me dizer:
- Minha filha, planta é que nem criança. Tem que pegar com jeito, com carinho e cuidar, se não ela morre...
Mas, eu quero falar é da música.
Quando eu queria massagear a minha alma, o remédio era cantar. Para não incomodar a ninguém eu passava a mão numa vassoura e começava a varrer. A varrer e a cantar.
Assim ninguém implicava. Varria cada cantinho sem deixar nada. E cantava todas as músicas que eu conhecia da escola, da igreja e do rádio.
Levava duas horas de relógio para terminar minha tarefa.
Passado esse tempo eu estava feliz e satisfeita. Olhava para trás e o terreiro estava perfeito, lindo, limpo.
Esgotando o meu repertório eu varria também a alma e ficava feliz.
sexta-feira, 13 de março de 2009
Dia Internacional da poesia
Osório Manoel, grande poeta africano de Moçambique(Foto)
Antônio Frederico de CASTRO ALVES
Um jovem apaixonado pelas grandes causas sociais de liberdade e justiça.
14 DE MARÇO DE 1847. Nascia o carismático poeta baiano autor de um dos mais belos poemas cujo tema era a escravidão: NAVIO NEGREIRO
Em sua homenagem foi escolhido o dia 14 de março como o DIA INTERNACIONAL DA POESIA.
Saudando poetas e poetisas que ainda acreditam na possibilidade de se plantar uma flor. E para todos os amantes da poesia
Um pouco de mim em forma de poesia:
Comunicação
Quando criou Deus o mundo
Palavras também ele criou.
Distribuindo-as entre os povos da terra.
Um pacote especial
Em seu coração guardou.
Passeando numa tarde,
Nos jardins do paraíso,
Um poeta encontrou.
Abriu então o peito
E aquela preciosidade
Em seu coração derramou.
Por isso que a comunicação entre
Poetas é feita pelo olhar.
---------------
De tudo isto o poeta já viveu um pouco:
Levantar de madrugada,
Tomar a companheira caneta
E escrever uma toada.
Ter um poema de tema, saudade
E um monte de tema, solidão.
Despistar contando piada,
Fugindo da dor no coração.
Ter por herança um caderninho
De antigos madrigais.
Viver intensas paixões platônicas.
Nisto todos somos iguais.
Poetas perdidos
No bruto artificial.
Venham pra minha casa
Sem trancas e sem tramelas.
Venham pro nosso habitat natural.
Fragmentos de poemas do livro (Mulher o axé do criador) – Cida araújo
Um jovem apaixonado pelas grandes causas sociais de liberdade e justiça.
14 DE MARÇO DE 1847. Nascia o carismático poeta baiano autor de um dos mais belos poemas cujo tema era a escravidão: NAVIO NEGREIRO
Em sua homenagem foi escolhido o dia 14 de março como o DIA INTERNACIONAL DA POESIA.
Saudando poetas e poetisas que ainda acreditam na possibilidade de se plantar uma flor. E para todos os amantes da poesia
Um pouco de mim em forma de poesia:
Comunicação
Quando criou Deus o mundo
Palavras também ele criou.
Distribuindo-as entre os povos da terra.
Um pacote especial
Em seu coração guardou.
Passeando numa tarde,
Nos jardins do paraíso,
Um poeta encontrou.
Abriu então o peito
E aquela preciosidade
Em seu coração derramou.
Por isso que a comunicação entre
Poetas é feita pelo olhar.
---------------
De tudo isto o poeta já viveu um pouco:
Levantar de madrugada,
Tomar a companheira caneta
E escrever uma toada.
Ter um poema de tema, saudade
E um monte de tema, solidão.
Despistar contando piada,
Fugindo da dor no coração.
Ter por herança um caderninho
De antigos madrigais.
Viver intensas paixões platônicas.
Nisto todos somos iguais.
Poetas perdidos
No bruto artificial.
Venham pra minha casa
Sem trancas e sem tramelas.
Venham pro nosso habitat natural.
Fragmentos de poemas do livro (Mulher o axé do criador) – Cida araújo
sábado, 7 de março de 2009
8 de março - 2009
Minha homenagem ao Dia internacional da mulher
ASSISTINDO A VIDA
Assistindo a vida eu vi:
Mulheres condenadas por matarem no ventre
Embriões condenados na concepção.
Mulheres lutando para salvarem no tempo
A espécie humana em extinção.
Assisti a prostituição sagrada
De meninas e meninos em troca de pão.
Espoliados e descartados
No submundo da ambição.
Vi mãos calejadas e doentes,
Portas fechadas, corações inclementes.
Corpos tombados, nos campos e cidades,
Crivados de bala e solidão.
Assisti o desequilíbrio ecológico-humano
Estancando lágrimas,
Trincando dentes.
Minando a dor, o desalento e a mágoa
De a tudo assistir:
Sem no entanto fazer nada.
Um dia percebi que o sol brilhava.
A um micro célula de esperança
Agarrei-me.
Do subúrbio da insignificância
Levantei-me.
De mera espectadora me tornei
Jogadora, técnica e juíza
Lutando feroz contra toda incoerência,
Esgotei meus argumentos
Impotente e infeliz.
Dos escombros da vaidade,
Assisti minha própria queda...
Introspectivamente
Para dentro de mim caminhei.
Da solidão e do silêncio
Assisti a vida;
Imparcial e natural:
Metamorfose...
Movimento...
Chegadas e partidas.
Recomeçar e recomeçar
Mistérios...
Mistérios...
E mistérios
Autoria - Cida Araujo – Livro - Mulher o axé do criador –
E mistérios
Autoria - Cida Araujo – Livro - Mulher o axé do criador –
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
Maturidade
Aquecimento global. Está nas manchetes, na mídia, nas rodas de entendidos e na boca do povo.
Estamos sentindo na pele os efeitos desse calor infernal.
Para complicar-me mais está em mim o “aquecimento climatério”. Um fogacho invade meu corpo deixando-me louca. Coisas de mulheres!
Saindo do banho enrolada na toalha, paro diante do espelho e fico a contemplar o meu corpo.
Cabelos brancos são lindos... Na cabeça da vovozinha, não na minha. Cosméticos modernos resolvem essa parte.
Mas, e o resto? Temos que assumir a realidade.
Pouco abaixo de meus joelhos noto umas pintinhas brancas. Assustada, ligo para o dermatologista e marco uma consulta urgente.
- Isso não é nada importante, são pequenas sardas, comuns em sua idade. Diz a doutora.
Passo então a prestar atenção nas outras mulheres e percebo que e normal. Quase todas de minha idade as têm.
Nas anti-salas de consultórios as conversas tornam-se confidências.
- Tenho que tirar o meu útero. Diz pausadamente a mulher que está ao meu lado aguardando a consulta com o ginecologista.
- útero só serve para gerar bebês e dar lucro às fábricas de absorventes.
Comenta sem refletir na gravidade do momento para aquela mulher, uma mocinha que está ao lado.
- Não é bem assim. Lembro-me bem, parece que foi ontem. Quando veio minha primeira menstruação apesar de todo o incômodo eu me senti mulher! Completa, capaz, saudável...
E quando tive meu filho. Oh meu Deus! Nada é maior, mais bonito, mais sublime!
E agora será arrancado de mim esse “pedaço” que me deu tanta dignidade e orgulho. Uma parte de valor imensurável do meu eu mulher...
E sempre que estou diante do espelho, lembro-me daquela mulher!
Adoro meus seios. Apesar de não serem como alguns anos atrás, são bonitos e sensuais.
E vem um idiota de médico com aquele discurso medíocre, chinfrim...
- Vamos retirar uma parte de teus seios...
Talvez seja necessária a retirada total...
Um processo simples... Conforme o tratamento, teus cabelos também podem cair...
Para os diabos!
O momento é meu, a dor é minha!
Mutilações...
Diante do espelho eu vejo a mulher!
Independente das perdas e danos
Das frustrações e desenganos...
Uma linda mulher!
Cida Araújo (Trecho do livro: O Manacá Florido da autora)
www.cidaarujo2007poetisa.blogspot.com
Aquecimento global. Está nas manchetes, na mídia, nas rodas de entendidos e na boca do povo.
Estamos sentindo na pele os efeitos desse calor infernal.
Para complicar-me mais está em mim o “aquecimento climatério”. Um fogacho invade meu corpo deixando-me louca. Coisas de mulheres!
Saindo do banho enrolada na toalha, paro diante do espelho e fico a contemplar o meu corpo.
Cabelos brancos são lindos... Na cabeça da vovozinha, não na minha. Cosméticos modernos resolvem essa parte.
Mas, e o resto? Temos que assumir a realidade.
Pouco abaixo de meus joelhos noto umas pintinhas brancas. Assustada, ligo para o dermatologista e marco uma consulta urgente.
- Isso não é nada importante, são pequenas sardas, comuns em sua idade. Diz a doutora.
Passo então a prestar atenção nas outras mulheres e percebo que e normal. Quase todas de minha idade as têm.
Nas anti-salas de consultórios as conversas tornam-se confidências.
- Tenho que tirar o meu útero. Diz pausadamente a mulher que está ao meu lado aguardando a consulta com o ginecologista.
- útero só serve para gerar bebês e dar lucro às fábricas de absorventes.
Comenta sem refletir na gravidade do momento para aquela mulher, uma mocinha que está ao lado.
- Não é bem assim. Lembro-me bem, parece que foi ontem. Quando veio minha primeira menstruação apesar de todo o incômodo eu me senti mulher! Completa, capaz, saudável...
E quando tive meu filho. Oh meu Deus! Nada é maior, mais bonito, mais sublime!
E agora será arrancado de mim esse “pedaço” que me deu tanta dignidade e orgulho. Uma parte de valor imensurável do meu eu mulher...
E sempre que estou diante do espelho, lembro-me daquela mulher!
Adoro meus seios. Apesar de não serem como alguns anos atrás, são bonitos e sensuais.
E vem um idiota de médico com aquele discurso medíocre, chinfrim...
- Vamos retirar uma parte de teus seios...
Talvez seja necessária a retirada total...
Um processo simples... Conforme o tratamento, teus cabelos também podem cair...
Para os diabos!
O momento é meu, a dor é minha!
Mutilações...
Diante do espelho eu vejo a mulher!
Independente das perdas e danos
Das frustrações e desenganos...
Uma linda mulher!
Cida Araújo (Trecho do livro: O Manacá Florido da autora)
www.cidaarujo2007poetisa.blogspot.com
Assinar:
Postagens (Atom)