quarta-feira, 25 de março de 2009

Diante de meu canto reverencia-me ou cale-se

A Música

Como uma gota de óleo numa engrenagem seca
O inalar de um velho perfume
Uma pitada de sal na ferida viva
É a música dentro de mim...

Esse trecho é parte de um poema de minha autoria intitulado, A música.
A música faz parte do repertório de minha vida desde a infância. Quando criança eu gostava muito de cantar. Mas era só eu abrir a boca, alguém gritava:
- Ah não! Já vai começar?

Em minha casa havia um terreiro muito grande, todo de chão. A casa simples era rodeada de plantas, hortaliças e muitas flores. Meu pai, jardineiro, cercava os canteiros com grama que buscava nos lotes vagos que haviam por perto. Adubava com esterco que catava pelos caminhos onde os animais passavam. Lembro-me das fileiras de cenourinha, pimentão, abobrinha de árvore...
E de seu olhar ao me dizer:
- Minha filha, planta é que nem criança. Tem que pegar com jeito, com carinho e cuidar, se não ela morre...
Mas, eu quero falar é da música.
Quando eu queria massagear a minha alma, o remédio era cantar. Para não incomodar a ninguém eu passava a mão numa vassoura e começava a varrer. A varrer e a cantar.
Assim ninguém implicava. Varria cada cantinho sem deixar nada. E cantava todas as músicas que eu conhecia da escola, da igreja e do rádio.
Levava duas horas de relógio para terminar minha tarefa.
Passado esse tempo eu estava feliz e satisfeita. Olhava para trás e o terreiro estava perfeito, lindo, limpo.
Esgotando o meu repertório eu varria também a alma e ficava feliz.

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